Fagulhas


Fagulhas

Mari Cardozo

Fugaz é todo instante
e quando tento reter o da suprema delícia
de tua companhia
com pressurosa angústia
ele se esquiva ao meu abraço
apesar dos meus esforços...

Quando em tua companhia
nuvens de fagulhas,místicas e ardentes
dançam em minha volta
alando-me, elevando-me da terra
ao encontro de coros angélicos
no céu ilimitado do teu corpo
recinto mais venturoso do paraíso.

Com inefável êxtase te sinto
sinto-o, sem vê-lo, sem tocá-lo
mas como no ardor da presença física
meu corpo vibra sentindo o enlace
dos nossos corpos no milagre da hora cósmica.
Na comunhão do meu lábio com teu lábio
pressinto que caminho ao encontro
de um destino imprevisível...
Talvez rumo ao refúgio definitivo
a repovoar de novos germes de vida
o vazio de espaços infinitos
empurrada por mão invisível.
Mas como continuar a viver
sem se deixar levar por essa mão?
Como suportar essa vida
exilada de sua plenitude mais íntima
que é sentir teu gosto?

Quero fartar-me com teus beijos
saciar minha sêde voluptuosa
na suprema delícia do teu gôzo.

Resvalar para aquele torpor
aquela sonolência
em que as delícias do esgotamento
reforçam a alegria do despertar
e a alegria do despertar
e a volúpia do sentir
já se preparam para novo esgotamento
voluptuoso....
Arquejante, quero absorver o ofego ardente
do gozo entre teus lábios....e recomeçar
Nós dois, de olhos cerrados
cada qual gozando de si mesmo no outro
com o olhar voltado para dentro
sentindo ardentemente
e com ardente lucidez...
Sabemos que nesse sonho inefável
há a sensação consciente da realidade
e nem o céu, nem a terra poderá dar-nos
mais profundas volúpias
Mas tudo isso será mais do que gozo
não pertencerá a uma época
ou determinado período
uma sensação que nem mesmo terá nome
pois descrevê-lo não caberá na linguagem
dos homens...

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